Essa semana uma amiga postou um texto no Facebook e após ler, eu comentei que havia me identificado com a moça do texto. Ela respondeu dizendo justamente que havia pensado em mim quando leu e postou!
Se você passou por uma Job Search recentemente provavelmente vai se identificar também. Boa leitura!
Você é Hands On?
Veja o texto abaixo do Max Gehringer – Colunista da Revista EXAME – e inspire-se
Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os interessados possuíssem – sem contar a formação superior – liderança, criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem HANDS ON. Para o felizardo que conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico.
Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de saltar para ser admitido.
E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aívêm as agruras da super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico…
Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de atendimento interno… E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges, Gerente da Contabilidade.
Seu Borges: — Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.
Fabiana: — In a hurry!
Seu Borges: — Saúde.
Fabiana: — Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência em inglês se aqui só se fala português?
Seu Borges: — E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?
Fabiana: — O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho profundos conhecimentos de informática.
Seu Borges: — Não, não.. Cópias normais mesmo.
Fabiana: — Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que tiramos.
Seu Borges: — Fabiana, desse jeito não vai dar!
Fabiana: — E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.
Seu Borges: — Como assim?
Fabiana: — É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um desperdício do meu potencial energético.
Seu Borges: — Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.
Fabiana: — Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro…
Seu Borges: — Futuro? Que futuro?
Fabiana: — É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não aconteceu nada.
Seu Borges: — Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!
Fabiana: — Sei. Mas o senhor é hands on?
Seu Borges: — Hã?
Fabiana: — Hands on….Mão na massa.
Seu Borges: — Claro que sou!
Fabiana: — Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu fui contratada.
Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:
1 – Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm as qualificações requeridas.
2 – E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.
Alguém ponderará – com justa razão – que a empresa está de olho no longo
prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.
Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um montão de gente superqualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação Alfred Nobel.
Pessoas superqualificadas não resolvem simples problemas! Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto, motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação… só que não sabia nem abrir o capô.
Duas horas depois, quando o pessoal ainda estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero. Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.
- Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.
Adorei o post. Muito bom.
ResponderExcluirE a vida segue...
www.calgary2012.blogspot.com
Excelente. Desde que voltei para o Brasil vindo dos EUA, isso é o que mais tenho visto aqui. Lista de exigências em qualificação enormes e salários pífios, ridículos, beirando a humilhação. No Brasil, ainda vivemos o ranço da escravidão e da ditadura, onde os coronéis(as grande empresas) se acham no direito de exigir Phd de seus candidatos mas oferecem salários medíocres, o que levaria décadas para o funcionário recuperar o investimento feito em sua educação. Muito revoltante.
ResponderExcluirWellard, não pense que aqui é muito diferente não. Dada a quantidade enorme de imigrantes qualificados que chegam aqui todos os anos, as empresas colocam cada vez mais requisitos nas vagas e pagam cada vez menos. É a lei da oferta e procura. Prepare-se para ganhar menos do que merece por aqui também!!!
ResponderExcluirOi, Ma!
ResponderExcluirEu moro em Brasília e, como você deve saber, o setor que mais emprega aqui é o setor público. Eu sou servidora federal e ter passado nesse concurso foi uma das coisas que me motivaram a querer imigrar.
Aqui, as provas de concurso são tão concorridas que tornam-se cada dia mais e mais difíceis. A grande maioria das pessoas que conseguem passar em uma prova para trabalhar em um cargo de Nível Médio (carregar coisa, tirar xerox, atender telefone, cuidar de agenda) tem graduação e às vezes pós em Direito.
Sim, parece loucura, mas é tão difícil passar nas provas que o pessoal se especializa em Direito para conseguir uma vaga dessas que geralmente paga mal.
No meu caso, eu consegui passar em uma prova específica para minha área (biblioteconomia), mas ainda assim eu sofro horrores. Sem querer me gabar, mas eu estudei muito, passei em primeiro lugar para o meu cargo e até hoje me pergunto por quê diabos fizeram uma prova tão difícil já que a função que eu exerço aqui é tipo 0,01% do que aprendi na faculdade. E olha que eu nem tenho pós graduação...
Enfim, apesar de tudo, espero fazer mestrado em Montréal e, se não ganhar o tanto de dinheiro que eu acho que mereço, que pelo menos posssa UTILIZAR tudo o que aprendi na universidade. Isso já me deixaria tremendamente feliz!
Beijos,
Lídia.
Tô triste:(
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