quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um ano depois

Olá a todos, no dia 12 de maio fez um ano que chegamos. Estou para escrever faz tempo, mas não tinha tido tempo de parar, sentar e escrever.
 
Foi um ano maravilhoso, movimentado e cheio de novidades. Teve altos e baixos, emoções e sentimentos bons e ruins. Depois de certo tempo as novidades vão ficando mais escassas, a rotina vai se estabilizando, não tiramos tantas fotos, não nos impressionamos com tudo. Vou tentar neste post resumir um pouco sobre como me sinto após este primeiro ano vivendo onde por tanto tempo eu sonhei em viver.
 
As estações, o inverno, a chuva
 
Eu gosto demais de olhar para as arvores numa rua e todo mês perceber que elas estão de alguma forma diferentes. Não e o fato de terem ou não terem folhas, ou estarem ou não vermelhas. A paisagem muda muito, de mês a mês, e é apaixonante... Um mês é cherry blossom com as arvores cheias, no outro as flores caíram, mas deixaram o chão colorido, no outro são as tulipas nos pés das arvores, no outro folhas verdes e flores mais simples, depois vem o outono com toda aquela poesia, depois o Natal com suas luzes, depois a neve, as arvores peladas parecendo mortas e enfim o blossom recomeçando o ciclo... Eu nunca me canso disso!
 
Já o clima... Nunca foi segredo nenhum para mim que chovia-se demais em Vancouver, nem que apesar do inverno ser na maior parte ameno o verão as vezes não vem. Depois de um ano da para ver realmente como me sinto em relação a isso. O inverno aqui começa em novembro. De novembro a marco os dias são curtos e chuvosos, o sol passa a ser "objeto de luxo" e quando aparece, todo mundo se proíbe de ficar em casa. Se faz sol em um dia de semana, todos se culpam por estarem encerrados em seus escritórios e não poderem aproveitar a luz. Em abril os dias são longos e faz mais sol, mas a chuva insiste em não ir embora. Em maio faz uns dias de calor, mas depois a chuva volta e permanece. Em junho, que é quando todos estão exaustos de usar botas e casacos ainda continua chovendo, as vezes ate julho, e sobra o mês de agosto de sol... Eu havia me convencido a não reclamar do tempo, de novembro a marco eu não disse um "A" mas em junho, depois de tanto tempo de chuva e frio, quando eu vejo a previsão do tempo da semana somente com um monte de nuvenzinhas cinzas e temperatura máxima de 13 graus, confesso que desanima... Bom, mas enfim, serve para darmos mais valor ao sol e ver que assim como os nativos ou os que vivem aqui muitos anos, o sol passa a exercer um certo "poder" sobre nos, mexendo com nosso humor e emoções.
 
Multiculturalidade
 
Também nunca foi novidade para mim a multiculturalidade de Vancouver, mas as vezes me sinto como se tivesse imigrado para a Ásia. Outro dia fui no Cheesecake Etc., um lugar super tradicional de Vancouver e dentre todas as mesas no enorme salão os únicos ocidentais éramos nos. As vezes entro no Skytrain e não consigo entender nenhuma língua. Sabe quando tem pessoas do seu lado conversando e rindo e você não entende sequer uma palavra e fica imaginando: "o que será que elas estão falando? Poderiam bem estar falando e rindo de mim!!" Não que isso me incomode, nunca gostei mesmo de ficar escutando conversa dos outros! Mas enfim, esses dias me deparei com a estatística: menos de 40% da população de Vancouver é nativa, ou seja, 60% são estrangeiros e dentre esses 60% de estrangeiros 50% são chineses.
 
Trabalho e dinheiro
 
Parece que eu sou o tipo de pessoa que estou sempre andando na contra-mão... No Brasil as leis trabalhistas são ótimas para quem é empregado (30 dias de ferias, 13o, atestado medico, aviso prévio, multa de FGTS, etc etc etc) e péssimas para quem é empresário. Aqui é ao contrario, as leis trabalhistas praticamente não existem, e acaba sendo benéfico para quem é empresário. Guess what? No Brasil eu era empresária, gastava fortunas com encargos trabalhistas, e aqui sou mera empregada, sem direito a nada!!! Oh well... Não se pode ter tudo mesmo... Sou muito grata por após um ano de Canadá estarmos os dois empregados e conseguindo manter as despesas. Não tenha duvida que nosso padrão de vida em relação ao que tinhamos no Brasil caiu muito. O dinheiro é contadinho, e eu faço manobras para dar conta de todas as despesas. Ainda dependo de dinheiro do Brasil, mas espero que a gente consiga aos poucos estabilizar tudo por aqui.
 
Amizade, familia e saudade
 
Amizade é uma coisa que se constrói pouco a pouco. A confianca, a cumplicidade, são coisas muito mais profundas do que boas risadas. Amizades de 10, 20 anos ou o carinho da familia são insubstituíveis. Email, facebook, skype felizmente ajudam a manter o contato e o dialogo, amenizando a saudade. Fazer amizade para mim nunca foi uma coisa fácil, os canadenses são bastante fechados, e não é o simples fato de termos em comum apenas a mesma nacionalidade que faz dos brasileiros que vivem aqui todos amigos. Afinidade é muito mais importante do que a nacionalidade. Felizmente posso afirmar que em um ano tive a sorte de encontrar grandes amigos aqui, amigos que neste ano estiveram comigo para dar risadas ou para dar suporte nos momentos difíceis.
 
Saúde
 
Ate agora foi o que mais tem pesado negativamente. Na minha opinião, o sistema de saúde não é ruim, mas também esta longe de ser bom. Ele é competente, mas extremamente frio. Nunca fui uma pessoa de ficar doente, no Brasil eu ia ao medico uma vez por ano para o check-up. Mais uma vez andando na contra-mão, aqui em um ano eu precisei mais de médicos que nos últimos 10 anos no Brasil, com o meu plano de saúde privado e caro que eu raramente usava... O sistema de medico de familia funciona bem, o problema é quando você tem alguma emergencia. Ai é como INPS mesmo, você vai ao hospital e fica horas para ser atendido. Não é nada parecido como o que a gente naquelas milhares de series medicas como ER, House, etc... Pelo menos é tudo muito limpo, organizado e as pessoas educadas... Mas esperar com dor, com duvida, é muito ruim. Eu tive um aborto espontâneo, cheguei ao hospital sangrando muito, esperei por horas para ser atendida com dor e desespero. Os médicos dão pouca ou nenhuma informação, eh demais de triste. Nessa fase eu me questionei varias vezes o que eu estava fazendo aqui.
 
Vale a pena?
 
Para mim esta valendo. Saudades na minha opinião não é uma coisa ruim. As memórias são feitas de saudades. Eu sinto saudades da casa que eu vivi na minha infância, das ferias que eu passava com meus primos, saudades do que eu fazia na adolescência, da cidade que eu morei durante a faculdade, dos meus anos de recém-casada, do apartamento que eu morava, de ter o meu negocio, de ser reconhecida na minha profissão, saudades das viagens que eu fazia, das pessoas que passaram pela minha vida. Se eu não tivesse passado por tantas mudanças e tivesse ficado a vida toda na mesma casa, ou na mesma cidade, no mesmo emprego, eu nao teria a chance de sentir saudades e de ter memorias mais vivas. Nao eh so a questao da mudanca que me agrada, gosto daqui, gosto dos parques, das florestas, da natureza, da qualidade de vida da organizacao. Eh melhor que o Brasil? Em alguns aspectos sim, em outros nao. Com certeza tem mais "a minha cara", combina mais comigo e hoje estou feliz com a minha escolha.
 
Acho que eh isso que eu tinha para dizer!

Cheers!